terça-feira, 12 de setembro de 2017

Chegou a vez da minha mama...

Minha mãe morreu. Para mim ela fez a passagem, desencarnou, mas a verdade é curta e simples. Ela morreu. Fez uma semana ontem.

Eu sabia que esse dia chegaria, só não tinha a mínima ideia de como seria. Tinha medo que acontecesse em casa, num momento de engasgo do qual eu não conseguisse socorrê-la. Tinha medo que acontecesse quando tivesse apenas a enfermeira e cuidadora em casa, e elas não conseguissem socorrer. Pensava em duas possibilidades, ou parada cardiorrespiratória ou uma infecção que não respondesse aos medicamentos, o que já acontecia – apenas dois antibióticos atuavam bem nela. Os demais não faziam efeito e causavam alergia sempre que eram ministrados.

Foi quase assim. A respiração ficou difícil, corremos para o hospital, autorizamos entubação e sedação, o pulmão estava com muito líquido, a traqueia foi “machucada” quando ela foi entubada, e no quarto dia de hospital ela se foi.

Eu não vou parar com o blog, e vocês podem continuar me escrevendo. Quero me aprofundar em alguns temas já discorridos, mas darei um tempo aqui. Tempo do luto, tempo de não lembrar da doença, que sempre ganha no final. Tempo para a nova vida entrar na rotina, para a casa vazia substituir a loucura do homecare. Tempo para pensar numa utilidade para os anos que me faltam... Não é fácil ser vencida por essas três letrinhas que nos acompanharam por tantos anos... AMS maltrata, judia, vai até o limite da perseverança do doente, testa a paciência de quem cuida, coloca em prova a fé de quem ama, e ganha no final.

Prefiro ficar agora com as lembranças boas... do riso fácil, do cheiro bom, do abraço... dos anos de cumplicidade, dos momentos com a minha melhor amiga, minha mãe, meu amor. Para encarar é preciso coragem, persistência, paciência, mas principalmente MUITO AMOR. Isso sempre teve de sobra lá em casa.

Aos que me leem, aos que tem um parente com essa doença, aos que decidem cuidar, não desistam. É difícil, é caro, há muitas perdas... mas há muito mais aprendizado. Há muito mais amor a ser vivido. Há algo muito profundo em experimentar essa vivência, mergulhar nessa doença, e se propor a olhar sempre o copo meio cheio para sobreviver a isso, e ter momentos reais e intensos de verdadeira alegria. Se abram para isso. Vivam intensamente, porque mesmo os dias mais difíceis deixarão saudade. 

Agradeço até hoje pelas mensagens carinhosas que sempre mandaram a ela.

Agradeço à minha mãe, que foi um exemplo de amor e generosidade, de garra e persistência, que sempre nos ajudou a ajudá-la, que não desistiu nunca porque queria cuidar de nós, estar junto. Sou grata a ela que me fez quem eu sou, me ensinou o que eu sei, e viveu comigo o verdadeiro significado do amor. MUITO obrigada mama. Estou com muita, mas muita saudade de você.

Descanse em paz, livre, esteja onde estiver. Nos veremos em breve.
Te amo mais que tudo, pra sempre.


7 comentários:

  1. Anali,

    Você conseguiu expressar em poucas palavras o que sentimos quando perdemos um ente querido com a tão temida AMS, todos estes sentimentos eu senti e tenho certeza que muitos sentiram, porém não souberem expressar com tanta precisão como vc o fez agora, saiba que vc foi uma filha exemplar e confesso no dia que li o post sobre a perda da sua mãe eu estava com meus irmãos comendo em um restaurante e sinceramente ali naquela hora que li sobre o acontecido e como se tivesse perdido o chão porque eu me espelhava muito em vc eu tinha vc como uma pessoa que e igual uma professora que quando recebe o seu primeiro aluno "a professora" está lá pronta pra nos ensinar o melhor caminho pra se alcançar o sucesso e era sim que eu via vc porque ao receber o diagnóstico do meu pai eu entrei no grupo e vc com tanta humanidade e sabedoria me ensinou a lidar com a tão temida AMS hj eu agradeço Tb a Claudeth Lemos Ribeiro, Natasha Froes que tb me ensinaram tanto a uma família que tão pouco sabia!!! E eu meus meus irmãos estávamos com tanta sede de aprender mais e mais sobre a doença e assim poder fazer o que tinha de melhor pra nosso pai!!! E hj eu tenho certeza que o melhor era o AMOR!!!! Como foi bom dar amor ao meu pai!!!! E tenho certeza que vc fez e deu este amor a sua mãe!!! Obrigada por vc me ensinar, obrigada por vc compartilhar tudo que sabia a nos!!!! Sinta-se abraçada por nós!!!! Vc foi perfeita com sua mãe e com a mãe e pais de todos do grupo!!! Força estamos aqui, não suma precisamos de vc e o grupo tb precisamos passar aos que estão começando está jornada os nosso ensinamentos!!!

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    1. Boa noite
      Hj eu e meus irmãos recebemos a noticia que nossa mãe esta com AMS não sei o que realmente e essa doença por favor me ajude..

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  2. Elizabete, suas palavras realmente me emocionaram, mas principalmente me deixaram feliz por saber que de alguma forma forma contribuí. A ideia do blog foi minha, mas minha mãe na época deu total apoio, aprovou o logo e permitiu que divulgasse tudo, inclusive fotos. Não é muita gente que me escreve, mas se uma família se beneficiou já valeu! Eu não tenho conhecimento técnico sobre a doença, nem sei se o caminho que seguimos foi o melhor, mas enquanto foi dando certo eu achei que seria bom compartilhar. Muito obrigada por me dar esse retorno, não sabe o bem que me fez... obrigada por me mostrar que valeu a pena escrever e contar sobre a nossa vida. Pretendo continuar com o blog, mesmo que nossa história tenha terminado. Muito obrigada mesmo!!!! Um grande beijo!

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  3. Anali, antes de qualquer palavra, queria te agradecer por cada post escrito, pelo amor com que cuidou da sua mãe, pela coragem e pela ajuda sem tamanho a tantas pessoas que procuram saber mais sobre essa doença.

    A AMS ainda é muito pouco conhecida, e contar com um blog como o seu, quando nos é dado o diagnóstico, faz-nos ver que não estamos sozinhas e acende aquela luz de coragem de que é possível conviver com essa doença. Que embora cruel, a AMS nos faz valorizar cada momento e que podemos ter momentos da mais profunda e pura alegria mesmo nesta jornada.
    A AMS transforma nós familiares. E que essa transformação seja no melhor que podemos ser.

    Sua mãe, assim como tantos paciêntes, é especial. São seres de luz. São dotados de tanta força e coragem que enche meu coração de comoção.
    Com certeza, esteja onde estiver, ela está orgulhosa de você, está presente, está realizada, livre e leve.

    Continue espalhando esse amor e essa luz que emana de você.
    Continue sentindo a presença dela em cada bom momento, em cada gesto de afeto.

    Parabéns pela tua dedicação, parabéns a tua mãe por ser tão especial.

    Fique bem. E com a certeza de que ela teve todo amor do mundo.

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    1. Roberta, bom dia.

      Fico muito feliz por ter contribuído de alguma forma. Quando fui me dando conta da complexidade dessa doença e do quanto que teríamos que aprender para lidar com ela achei que seria uma boa ideia compartilhar. Confesso que no início foi complicado porque as pessoas que me escreviam contavam sobre a morte de seus parentes portadores da doença, e eu ainda não tinha ido até essa página, mas entendi que esse seria o lado "ruim", e embalei.

      A AMS oferece dois caminhos... o da resignação e luta e o do desespero e desistência. Não julgo nada nem ninguém, porque cada um sabe até onde aguenta, mas nós demos conta. Não fizemos isso sozinhos, contamos com ela, minha mãe, sempre fofa e boazinha, aceitando ajuda e lutando contra tudo, e nos últimos anos com boas profissionais que nos auxiliaram. Eu tenho certeza que minha mãe está bem melhor agora, e sei que o meu grande amigo será o tempo, que cuidará de ajeitar tudo.

      Obrigada pelas suas palavras de carinho.
      O blog continuará....

      Um beijo

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  4. Ana, minha querida e amada amiga, qualquer coisa a falar sobre seu espírito de guerreira (a guerreira do bom combate que falo Paulo de Tarso)é pouco. Você sabia como seria e não deixou por menos. Muita gente considera a doença como um problema. Você soube que era uma circunstância e viveu com sua mãe aproveitando tudo que essa relação poderia (e ainda poderá) oferecer.
    Uma vez eu te disse que ainda sentiria saudades de tudo pelo que passou. Não é verdade.
    Agora, só vai ficar a saudade da Regina, que, desta vez, foi sua mãe. Pelo menos até o diagnóstico.
    Porque, depois dele, os papéis se inverteram em algumas situações.
    Você foi uma mãe para sua mãe.
    Mas, com certeza, ela sabe o tamanho da filha que tem.
    Um beijo de quem te ama muito.

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    1. Monte, obrigada pelas suas palavras.
      Depois que a rotina louca passou, confesso que não sei bem como dávamos conta de tudo. Na verdade sei... certamente recebia MUITA ajuda (além da terrena, que veio só no final). A doença foi difícil, bastante difícil, mas o caminho com ela seria longo para simplesmente desesperar, lamentar, sentar e chorar. Sinto muita saudade dela, o tempo todo, mas sinto um alívio em saber que ela está melhor. Agora é contar com o tempo e com as pessoas que têm sido muito presentes e carinhosas.
      Obrigada pelo tempo que esteve ao meu lado acompanhando esse processo.
      Um beijo enorme!!!

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