sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Falando do home care...

Demorei muuuuuuito para escrever desta vez, né? Demorei porque às vezes TUDO é também muuuuuuuuuuuuuuuuuuuito difícil... Escrevo sempre falando da prática, já postei sobre como eu me sinto, dou uma "passada" pelo aspecto emocional, mas o dia a dia realmente me consome... mas falarei disso outra hora. Hoje quero abordar sobre cuidadoras e home care.

Na prática o(a) cuidador(a) e a profissional do home care estarão dentro de casa, interagindo com o doente (detesto essa palavra, mas é isso mesmo), mas são figuras totalmente diferentes.

Vamos de home care primeiro...

A adaptação de ter gente em casa por 24h/dia é muito complicada. É algo que vai acontecendo no dia a dia, mas o problema é que não temos todo o tempo do mundo para nos adaptarmos a essa realidade. Isso porque o que for definido no início será muito difícil de mudar sem "crise" depois. Falo de aspectos práticos mesmo, como por exemplo: Oferecer almoço, permitir o uso de celular, liberar o avental, o cabelo solto, o perfume...  Tem que pensar muito bem, e claro, sempre ter jeito para falar e orientar.

Faz 6 meses que temos equipe de enfermagem por 24h/dia em casa, e acreditem, ainda não temos as quatro pessoas fixas. É um verdadeiro inferno! Sem exageros!! Não há outra palavra que descreva. Estamos sendo atendidos pela Amil, e as duas terceirizadas foram terríveis. Fujam das empresas NEW LIFE e PRIMUM. São incapazes de selecionarem pessoas minimamente competentes. Não há a menor organização, a ponto de encaminharem pessoas que não sabem lidar com uma gastrostomia, ou não saberem até hoje o que exatamente minha mãe tem.

No início foi muito difícil, porque era nossa primeira experiência assim. Nunca tínhamos tido contato com nada, nem conhecido quem pudesse nos orientar. Cheguei a expulsar 3 ou 4 profissionais, bem educadamente, mas não tinha a menor condição da minha mãe ser atendidas por elas. Recebi pessoas sujas, cheirando mal, pessoas folgadas, mal educadas, que saíram sem fechar a porta, que sentaram no sofá e disseram que no primeiro dia queriam só observar... Já tive de tudo.

90% das que gostamos eram stand by. Só apareciam naquele dia, depois eram direcionadas para cobrirem outros plantões. São do mundo, gostam de estar cada dia em uma casa diferente. Das mais de 35 que já estiveram em casa gostamos de umas 8 ou 9, e temos 3 dessas hoje em casa, como fixas.

Depois de um tempo fica fácil orientar, pedir como quer que tudo seja feito. A cuidadora ajuda bastante nisso.

A relação da "casa" com a profissional do home care é bem delicada. Vocês podem pensar que elas precisam de emprego, que estão lá para isso, mas não é bem assim. Somos nós que precisamos delas - daquelas que escolhemos - para termos tranquilidade para sair e trabalhar, sabendo que nosso familiar será bem cuidado. Tem uma demanda enorme, e uma escassez de profissionais da área da saúde. Ela recebem muito mal, são mal tratadas, e buscam sempre emprego em hospitais.

Para manter aquela que foi "sensacional" na sua casa é necessário muito esforço. Tem que tratar bem, fazer um agrado, reconhecer, saber pedir o óbvio... e ainda assim tudo pode acontecer. Sou muito grata àquelas que foram além dos cuidados de enfermagem, que aprenderam a ler minha mãe através da plaquinha, que chegaram com histórias para contar, fizeram um carinho, ou ajudaram a receber uma visita inesperada. Não é fácil! Digo que é o mais difícil que a doença traz, porque é mesmo.

Adicionado a isso tem ainda as questões de relacionamento entre a galera lá de casa (ou da pensão da Rê, como carinhosamente chamo). Cuidadora não gosta de uma, que não gostou da fisio, que acha que a fono é ruim, que não gosta daquela que vai duas vezes por semana ajudar com os serviços de casa, que por sua vez ficou magoada com a cuidadora. É um bando de mulher dentro de um apartamento de menos de 90 m2, rindo, reclamando, triste, de tpm, felizes e falando o tempo todo - com uma paciente que tem que se comunicar com uma plaquinha. E nós... bom, nós temos que chegar em casa todos os dias muito feliz, lidar com essa zona, fazer tudo para que continuem tratando nosso familiar muito bem e simplesmente agradecer por mais um dia...

É isso gente!!
Sobre as cuidadoras conto semana que vem  ;)

Abraço a todos,
Fiquem com Deus, 

Anali