quinta-feira, 14 de julho de 2016

Desabafo sobre tudo!!!

Oi gente!

Muitos meses sem escrever... Achei que seria sempre fácil. Sentar, contar sobre os últimos acontecimentos, e pronto! Postagem publicada. Só que não!

Essa doença traz com ela tantas outras coisas... Além das limitações físicas, da dor em assistir tudo isso podendo fazer tão pouco, ela traz um desgaste sem fim. Nesses últimos meses eu vivi dias em que ter tantas pessoas em casa me sufocou. A sensação de viver numa quase pensão, de nada mais parecer com um lar, foi quase insuportável.

O tempo todo temos gente falando, entrando e saindo, circulando pela sala, cozinha, banheiro... abrindo e fechando armário, lavando, arrumando, escrevendo. Ao mesmo tempo são todas minhas companheiras nessa luta. São meninas que trabalham bem, se empenham em fazer minha mama rir, se preocupam comigo, me ajudam a manter uma mínima organização por aqui. O que me cansa me salva. O problema não estão no homecare, ou nelas. O problema está na falta que faz viver em uma casa com cara de casa. Faltam coisas que nem nos damos conta da importância em ter quando nada nos falta.

Passamos por algumas ansiedades também.
Foram algumas pneumonias, por aspiração. Poucas infecções urinárias (graças a Deus). Algumas alergias, que aparecem e somem (depois conto porquê) e três novidades: ferida na orelha, rolhão de cera no ouvido e um belo de um glaucoma. Escreverei sobre eles em posts separados por cada assunto.

O que quero lembrar é que tudo continua valendo a pena.
Mudamos o ritmo de vida, a casa, os valores... Hoje, com 39 anos, de domingo a quinta-feira eu tenho horário para chegar. Nunca mais pude comparecer em um aniversário numa quinta feira, ou pensar em fazer uma pós. 

E a família? A família liga, um ou outro ajuda de vez em quando, mas cada um está dentro de sua casa com seus problemas. Acho que só meu tio sabe o nome da doença da minha mãe. Ninguém imagina o bem que faria se saísse de seu pequeno mundo e desse um pouco de tempo para viver o nosso. Terceirizar parte dos cuidados ainda é muito difícil para mim. Sempre quero que façam melhor, sempre acho que quando saio deixando minha mãe com minha cuidadora estou abandonando. Me sinto culpada. Quem conseguir fazer outras pessoas participarem faça. Não tem como trabalhar, ser pai ou mãe, ser filha, cuidar de casa e de uma pessoa doente assim.

Os amigos? Se mandam... quase todos eles. Alguns cansam de nos convidar para os eventos sociais e ouvir não, outros se sentem culpados por estarem felizes, alguns acreditam que o que fazemos é só reclamar (e querem ficar longe de qualquer "energia negativa")... ainda tem aqueles que têm certeza de que teremos muita inveja da felicidade alheia. Ninguém imagina que viver uma situação como essa é a pior e melhor coisa ao mesmo tempo. 

A notícia de que a infecção cedeu, um dia que minha mão acorda disposta e pede para passear, uma frase de amor que ela consegue ditar olhando para as letras na lousa... tudo isso já me emocionou muito mais profundamente que uma festa surpresa no meu aniversário, ou minha primeira noite de amor. 
Amor... ah, amor... aprendi a profundidade que essa palavra traz com a minha mãe, mas não com a doença. Com ela mesmo!

SEMPRE foi minha melhor amiga, parceira de viagens, companhia para almoços, colega de curso, de ginástica. A doença só mostrou que esse amor poderia ser transformado em muitas ações, com bem poucos limites. Não vivi nada mais emocionante ou feliz que os momentos que vivi com ela, e isso irá me custar muito caro, porque não consigo imaginar viver sem. Nunca imaginei ser mãe sem que meu filho tivesse avó. Jamais pensei em montar uma casa se não fosse com ela para escolher o que colocar dentro. Jamais pensei em uma cerimônia de casamento sem que ela estivesse ao meu lado.

Vou dizer que ninguém que passa por essa experiência sai ileso. Não há como sair sem dor, e nem como não experimentar o amor, mas uma coisa eu posso dizer: Hoje sou um ser humano bem melhor.

Gravem vídeos, conversas. Tenham as vozes de seus parentes registradas. Não fizemos isso. Não deu tempo. Foi tudo muito rápido... ficamos ocupados demais em aprender sobre a doença, jamais achamos que chegaríamos onde chegamos, e tudo que eu faço hoje é beijar minha mãe o tempo inteiro, decorar seu cheiro, tentar gravar na alma o toque da pele dela em mim, quando coloco as mãos dela no meu rosto ou na minha cabeça. 

Algumas pessoas me escrevem, dizendo que esse blog os conforta, ajuda, explica muita coisa. Fico feliz porque a ideia é realmente essa, mas quero ir além. Sem que precisem divulgar suas vidas como faço com as nossas, divulguem a doença, esse blog. Nossa chance é correr contra o tempo e causar curiosidade nas pessoas. Temos que cair na mídia, tornar a AMS conhecida. Ela tem que chegar na TV Globo, cair na mídia... Não sei se dará tempo de curar minha mãe, seu pai, mas quem sabe?

Me contem sobre o que preferem que eu escreva semana que vem.

Um abraço a todos, fiquem com Deus!


28 comentários:

  1. Sabe, vivo isso com meu pai. Não é fácil, nada fácil...ver ir embora quem nos cuidou, nos ensinou, deu conselhos e agora, os meios que temos para cuidar, em momentos especiais, precisamos tomar decisões e não podemos perguntar: "o que acha disso?"...parece que meu pai está num estágio mais avançado da doença, está atualmente internado em UTI e estamos torcendo para que seja liberado para vir pra casa, com home care. Sei que também será uma outra etapa bem difícil, bem mais difícil da anterior; é o processo avançando...que Deus nos dê forças!

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    1. Ola Gloria, como estão as coisas por aí? É uma luta difícil mesmo. Minha mãe participa de todas as decisões sobre ela, até hoje. O importante é manter a alegria e a fé, porque essa doença não dá folga...

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    2. Oi Anali descobrimos que minha mãe tem atrofia de multiplos sistemas não sei como lidar com essa doença por favor me ajuda

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  2. O meu marido faleceu com 56 anos com essa maldita doença. Apanhou uma pneumonia, foi internado e acabou por falecer. Tinhamos uma vida muito complicada. Muita força minha querida e que Deuas a ajude. Um abraço de Portugal.

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    1. Puxa vida Henriqueta, como ele partiu cedo... mas sabemos que está em paz. É muito difícil a vida de quem cuida, em todos os aspectos. Emocionais, psicológicos, e até financeiros. O que eu gostaria mesmo é de mais divulgação para estudarem sobre essa doença. Quem sabe se mais pessoas se interessassem sobre o assunto não teria ainda uma chance... Um abraço!!

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  3. Eu e minha mãe éramos " unha e carne". Como os nossos nomes são muito parecidos ( Gisele- eu e Gisélia-ela) apelidamos-nos de "Patati e Patatá". Tudo o que vc escreveu é verdade e muito mais. Estarei rezando por mim, por você e por todos que passam por essa situação. Beijos!

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    1. Agradeço muito pelas orações. Não sei como conseguiu lidar com a sua dor. Me ensine quando chegar minha vez... Um beijo

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  4. Eu e minha mãe éramos " unha e carne". Como os nossos nomes são muito parecidos ( Gisele- eu e Gisélia-ela) apelidamos-nos de "Patati e Patatá". Tudo o que vc escreveu é verdade e muito mais. Estarei rezando por mim, por você e por todos que passam por essa situação. Beijos!

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  5. Ana, minha amiga querida, desejo a vocês duas muita paz e conforto sempre, principalmente nos dias mais difíceis. Imagino como os sentimentos devem ser contraditórios e dolorosos nesses momentos. Fique com Deus e estou aqui de longe orando sempre por vocês duas. Ela é uma linda! E obrigada pelo texto. Vale ouro...de verdade. Puxa-nos a orelha pra tanta coisa.......beijos amiga e vamos divulgar!!

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    1. Ana, amiga... Muito obrigada. Cada dia mais difícil, mas cada vez que acho que não darei conta é quando descubro que dou. Tomara que eu lembre disso sempre... Um beijo amiga!

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  6. Querida sei bem como é. Essa doença ja chegou na globo. Perdi meu pai pra ela, trabalho la e consegui, junto com u grupo de Brasilia, falar nao só sobre a AMS mas como sobre outras doenças raras. Além de uma materia para o Bom Dia DF foi feito um Globo Comunidade. A informação esta sendo espalhada mas depois que a pessoa morre, a doenca morre para muita gente tb. Como se o problema deixasse de sumir. So que pra gente nao some. Doeu falar para meu namorado, quando ele me pediu em casamento "tem certeza? Eu posso ficar doente. Eu nao sei se posso ter AMS tb. Vc vai ficar?" Viver sem saber é permanecer com a AMS depois que nossos anjos partem.
    Tudo que vc relatou é a mais pura vdd. Mas todo esse cuidado é o que mais nos consola depois. Seja forte, mas chore todas as vezes que quiser e puder. Deixe as pessoas se ocuparem dos cuidados do dia a dia e cuide do amor de vcs!!!
    Se precisar de um ombro, tem um brasiliense disponível :)
    Bj

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    1. Oi CJ. Obrigada pelo seu depoimento. Bom saber que você conseguiu alguma coisa, mas eu quero mais. Quero de novo! Quero no programa do Encontro, no Bem estar... quero divulgar o blog, quero mais pessoas contando como lidaram com tudo isso... Você colocou uma coisa importante: E se acontecer com a gente? Se você não conseguiu nada a tempo para seu pai usufruir, quem sabe consigo para a minha mãe? Para mim, ou para você? Me ajude... Quanto mais gente e quanto mais vezes mais famosa ela vai ficando... Muito obrigada pelo seu carinho!! Me ajuda? Um beijo

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    2. Oi CJ., tudo bem? E aí, vai me ajudar a voltar pra mídia?
      Abraço!!!

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  7. Amiga Ana, quanta força e energia demonstradas com carinho e amor associados. Emocionante relato, que suas experiências sejam luz para aqueles que compartilham momentos como os seus e que Deus conceda a sua mãe e a você grandes bênçãos. Grande e fraternal abraço do amigo que a cada dia lhe admira mais... Alexsandro bjos "Xuxu"!!!

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    1. Oi amigo... que Deus realmente nos ajude, a ela e a nós. A todas as outras famílias que passam por isso muitas vezes sem os recursos que temos, ou sem o amor que existe aqui. Cada vez mais difícil, mais triste, e mais eu amo e quero sempre ela comigo! Um beijão!

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  8. Vivemos isso com meu pai, esse ano fará 3 anos que ele se foi acometido pela AMS. Mas apesar de tudo sinto saudades, foi tudo muito rapido descobrimos a doença no estagio avançado de la ate sua morte foram só 2 anos. Nao é facil cuidar da pessoa com essa doença mas sinto uma saudade imensa dele e as vezes me pergunto, porque nao aproveitei mais sua presença.

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    1. Nossa, muito rápido mesmo!! Minha mãe está doente há onze. Não é fácil mesmo, mas o amor que sentimos pela minha mãe ajuda bem. Tenho certeza que para eles a morte é uma libertação. A dor é que fica para nós mesmo... Um beijo

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  9. Pessoal que bom que encontrei voces....estou começando agora essa luta, apenas 1,5 anos mas só agora o diagnostico correto, apos passar por cinco medicos....é meu esposo apenas 59 anos, revoltado sem querer fazer o tratamento, está bem complicado, Deus abençoe e dê forças a todos.

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    1. Olá, boa tarde. Minha mãe era um pouco mais nova quando foi diagnosticada com parkinson, e mais tarde com a AMS. São poucos médicos que conhecem o assunto, e menos ainda que conseguem cuidar. Você está em São Paulo? Está satisfeita com o médico que está acompanhando o seu marido? Uma coisa eu digo, a aceitação é a melhor amiga para qualquer tratamento, porque o caminho é longo e bem difícil... Um abraço!

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    2. Olá!! Como estão as coisas por aí?

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  10. Anali, parabéns pelo blog e pela iniciativa. Meu pai acaba de ser diagnosticado com AMS, antes havia sido diagnosticado com Parkinson, há dois anos.
    Ainda estamos assustados e perdidos com essa nova realidade. Espero que possamos ir conversando no decorrer deste tempo.

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  11. Roberta, estou a disposição. Não vou minimizar as coisas para você. A doença é cruel, e muito triste, porém, como tudo, podemos facilitar a vida deles, aproveitar o tempo que temos, viver momentos de alegria e de amor. Aqui no blog tem muito material sobre o assunto, dicas que usamos, cuidados preventivos... enfim, espero que ajude. Pode escrever, me procurar, quando quiser. Um forte abraço!!!

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    1. Li quase todos os posts do blog, também li pesquisas e outras poucas coisas que achei sobre a AMS. É assustadora realmente. Mas tenho em mim que não posso esmorecer e perder um segundo sequer me lamentando. Temos que nos adaptar, correr atrás do prejuízo e, o principal, dar muito amor, alegria e conforto para quem vive com esta doença.
      É realmente uma pena que pouco se fale sobre ela, que haja pouco conhecimento até mesmo por parte de muitos neurologistas.

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    2. Oi Roberta, tudo bem? Como estão as coisas por aí?

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  12. Tenho vivido exatamente isso com minha mãe. Descobrimos a doença em 2013 e desde então vejo ela “morrer” um pouco a cada dia. Não é fácil, tem dias que o desespero toma conta de mim.
    Alguém aqui do blog saberia me dizer se essa doença pode ser hereditária? Se minha mãe tem necessariamente algum filho possa ter?

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  13. Boa noite! Juliana essa doença não é hereditária, é uma fatalidade.
    Roberta preciso muito da sua ajuda, que vive essa doença da sua mãe a anos, meu ex marido foi diagnosticado há 5 anos atrás como Mal de Parkinson, e fomos descobrir em Maio que ele tem é Atrofia de Multiplos Sistemas. Hoje ele é totalmente acamado, não anda, não fala, não se movimenta, alimenta por gastro. Reuni com meus filhos um com 16 anos e outro com 20 anos e estamos olhando, contratamos cuidadoras para a noite e durante o dia meu filho mais velho e a empregada, e eu olho tudo, faço as compras, pagamentos, levo ao médico, dou o suporte e muito carinho. As vezes acho que não vou aguentar ver tanto sofrimento, um homem de apenas 51 anos, era totalmente expansivo, alegre, brincalhão. Hoje só vejo tristeza em seu olhar. Sua mãe tbem está assim? Patrícia

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  14. Oi, Anali!!!
    Conheci seu blog hoje e já esta sendo muito útil.
    Este post então, nem se fala, o abandono dos amigos e da família é de doer.
    Minha mãe foi diagnosticada com AMS ha 5 anos, é uma luta diária.
    Lamento pelo falecimento da tua mãe, não é fácil.
    Um grande beijo,Isabelle

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